domingo, 25 de dezembro de 2011

Hy Brasil, o mistério...


O fato: Um incidente militar na Inglaterra nos anos 80 envolvendo uma aeronave não identificada. Ele nos remete a uma ilha lendária prédiluviana na costa da Irlanda, cujo nome tem a mesma raiz celta antiga que originou a palavra Brasil.
O local: Floresta Rendlesham, Condado de Suffolk, Inglaterra, 280 milhas a nordeste de Londres.
A história: Durante a Guerra Fria, mais de 2 mil oficiais americanos e homens alistados foram lotados em duas bases da RAF – Royal Air Force, nas margens norte e sul da floresta: RAF Bentwaters e RAF Woodbridge.
Pouco depois da meia-noite de 26 de dezembro de 1980, radares militares detectaram um objeto voador não identificado, e houve relatos de civis sobre estranhas luzes piscando no céu. Dentro de minutos, policiais militares, incluindo o sargento James Pennistone, e o aviador John Burroughs, foram enviados à floresta para investigar. 
John Burroughs e James Pennistone
 O que eles encontraram foi algo que a experiência militar deles nunca tinha visto antes: ”Com a luz se dissipando, eu comecei a ver a silhueta de uma nave triangular. Era totalmente preta, com exceção dos pontos de luzes azuis, laranja e amarelo passando por ela. Havia luzes azuis e algo como uma lança laranja por cima. Uma luz branca saía por baixo dela, e uma neblina alaranjada". Em seu relatório, o sargento Penniston descreveu estranhas dimensões da nave, com cerca de 2 metros de altura, com lados de 3 metros. Também observou marcas incomuns, símbolos semelhantes aos hieróglifos egípcios. “Eu estava esperando encontrar, eu não sei, USAF (Força Aérea dos EUA), ou algo assim, mas eram hieróglifos, pictogramas, e não faziam nenhum sentido, então eu passei a mão sobre o lado da nave, e era muito quente ao toque”.
Ao tocar a nave o militar com 26 anos de serviço afirmou ter recebido uma visão estranha e poderosa, “Era uma sequência de números zeros e uns, e simplesmente não fazia sentido. Tirei minhas mãos e... parou. E então, houve um flash de luz brilhante. e nesse momento, o que quer que fosse, subiu e partiu em direção ao litoral e não tivemos mais contato”.
Penniston e Burroughs receberam ordens do vice-comandante da base para tratar o suposto avistamento como se nunca tivesse acontecido. Ainda assim, após três décadas, James Penniston continua assombrado por sua estranha visão, tanto, que se sentiu compelido a manter uma anotação da mesma, um registro que manteve trancado por quase 30 anos: “É como se alguém estivesse segurando uma foto, desses zeros e uns e... eu podia vê-los em minha mente. Então eu os registrei. o que eles significam? Eu não sei.” 
Ilustração da Nave na Floresta Rendlesham
 Por quase 30 anos após seu encontro com a suposta aeronave não identificada, os aviadores militares já reformados Penniston James e John Burroughs raramente falam um com o outro sobre o incidente. No entanto, os dois homens permaneceram assombrados por sua experiência: “Eu quero saber o que era. Eu penso que há pessoas lá fora, e nosso governo tem que ter uma idéia melhor, e poderiam nos dizer o que se passou, o que aconteceu conosco, mas eu não sei como dizer ao certo o que era e de onde veio”. 
 “Há certos incidentes que aconteceram lá, que eu não me lembro... Ed disse que se lembra de mim puxando a arma, e depois todos nós apagamos. E eu não me lembro disso”.
Pouco depois de seu encontro relatado, James Penniston sentiu-se compelido a escrever a longa e complexa sequência numérica de zeros e uns, que alegou ter visto quando ele tocou o objeto, mas eram apenas números realmente aleatórios? Eu estava ficando com isso, não na memória, mas numa imagem mental desses códigos, um tipo de código binário. Então, eu tentei reprimir, mas tinha esse desejo de por para fora. Agora sabemos que a melhor maneira de se comunicar com uma civilização antiga é o código binário. Se nós sabemos isso, então, obviamente, alguém mais no universo vai saber também. E quando sabemos que os nossos antepassados, por conta própria ou com alguma ajuda de estranhos, sabiam isso, então percebemos que realmente o código binário é o melhor, se não o único meio, de comunicação alienígena.
Por três décadas, Penniston manteve a misteriosa seqüência numérica oculta entre as capas do caderno da Força Aérea. Lá ela permaneceu... sem ser examinada e indecifrável, “Eu estava morrendo de medo. Ficava sentado lá pensando: tudo bem, há algo errado com você, Jim. Você não está bem. você não está pensando direito, e este material é tão bizarro que você não pode dizer isso a ninguém. Eles vão retirar sua arma, eles vão te expulsar. Todas aquelas coisas eram perigosas. Isso é o que eu estava pensando naquele momento, que se contasse a alguém o que eu estava pensando, seria o meu fim”. Depois de finalmente deixar a Força Aérea e voltar para os Estados Unidos, Penniston notou que estava sendo assombrado por sonhos persistentes, tanto sobre sua experiência na floresta, como do significado da misteriosa mensagem numérica que recebeu: “O que eles significam? Eu não sei. eu nunca os tinha analisado ou coisa parecida. Quero dizer, estávamos lá fazendo nosso trabalho com uma situação que nunca tínhamos tratado antes”
Código binário anotado 1 de 5 págs.
 Em de outubro de 2010, Penniston então confiou suas seis páginas manuscritas de uns e zeros para um programador de computador. Ele esperava que a aparente série aleatória de números pudesse ser traduzida em algo semelhante a uma mensagem legível. Alguém poderia escrever de memória seis páginas de código binário? Bem, provavelmente não. Precisaria de alguma ajuda, ou teria de ser alguma espécie de sábio ou supercalculadora, “Eu comecei a transcrevê-lo em meu computador para ver o que eu poderia encontrar. Eu pensei, isso não vai servir para nada”. E então algo que parecia ser uma mensagem real de aliens surgiu, para sua surpresa. Depois de o técnico ligar os números em um computador, uma frase fragmentada surgiu, ela dizia: "Exploração da humanidade continua para avanço planetário". Outra parte da mensagem revelou o que pareciam ser coordenadas de navegação (latitude e longitude).
Quanto às coordenadas de navegação, incrivelmente, elas apontam para a localização geográfica de uma lendária e misteriosa ilha submersa, conhecida nas lendas celtas como “Hy Brasil”, que já foi dita ser o lar de uma civilização milhares de anos à frente de seu tempo. Ela também é ocasionalmente chamade de "A Outra Atlântida”. Acredita-se que Hy Brasil era uma terra misteriosa, e as pessoas que viviam ali tinham um alto grau de civilização. Eles usaram tecnologia de som e tecnologia de cura vibracional e eram muito éticos, pessoas altamente morais, e consideravam todos na Europa como bárbaros, na época, e não queriam se misturar com eles. Eles desfrutaram o isolamento e a solidão.
Mapa Pizigani - Ilhas S. Brandão, Mayda, Brasil, Daculi
A estranha mensagem binária do caderno de Penniston lista com precisão de GPS as coordenadas da lendária ilha Hy Brasil: 52º Norte 09’ 42,5” e 13º Oeste 13’ 12,7, no meio do Oceano Atlântico, perto da costa da Irlanda. Qual o significado disso?
Em dezembro de 2010 James Penniston encontrou-se com John Burroughs, e traçaram planos de retornarem à Floresta Rendlesham, no exato local onde eles afirmam ter encontrado a nave misteriosa décadas antes, “Nós estamos compelidos a voltar. Estar nessa área nos fará recordar tudo que aconteceu em dezembro de 1980. Eu não posso explicar isso, como eu não poderia explicá-lo pela primeira vez, mas eu acho que nós vamos ter uma compreensão melhor do que precisamos fazer a partir daí. Pode haver mais? Sim, pode haver mais, se Penniston e Burroughs retornarem à floresta inglesa, onde eles afirmam ter tido um “contato imediato”. O que eles irão encontrar lá? Mais pistas? Ainda mais mensagens? E o misterioso código binário encontrado no caderno de Penniston? A frase "Exploração da humanidade continua para o avanço planetário" e as estranhas coordenadas geográficas, que apontam para uma ilha perdida, realmente nos levam a que?
A ilha: você pergunta “Se a ilha Hy Brasil não existe hoje, como se afirma que essas coordenadas estão corretas e correspondem a ela?” A resposta nos remete às chamadas Ilhas Afortunadas registradas em vários mapas antigos medievais chamados Portulanos, entre os quais se inserem os famosos mapas do navegador turco Piri Reis que registravam inclusive os restos finais da Ilha de Poseidon, último reduto da mítica Atlântida registrada historicamente por Platão e Fídias no livro “Timeu” (nome do sábio egípcio).
As lendárias Ilhas Afortunadas ficaram também ligadas à lenda das viagens de São Brandão, o monge irlandês que as teria visitado e nelas teria encontrado o Jardim do Éden. Através desta lenda, as Ilhas Afortunadas ficaram associadas ao conjunto mais abrangente das ilhas míticas do Atlântico (Sete Cidades, Antília e ilha do Brasil entre outras).
Diz uma lenda popular que, após Helena de Tróia ter se casado com Aquiles, eles viveram nas Ilhas Afortunadas.
A ilha mitológica Hy Brasil foi representada em muitos mapas do Oceano Atlântico de 1325 a 1865. A presença da "ilha Brasil" em mapas medievais já deu a muitos a impressão de que a terra e o nome do Brasil eram conhecidos desde o século XIV. Na verdade, a ilha legendária nada teve a ver com as terras da América. Alguns especularam que sua presença nos mapas e no imaginário dos navegadores influenciou, pela coincidência, a fixação do nome de "Brasil" à terra inicialmente chamada pelos portugueses de "Vera Cruz", mas não há provas disso.
O mapa de Fra Mauro de 1459 indica uma ilha de nome "Brazil" com a inscrição em italiano: "Queste isole de Hibernia son dite fortunate", ou seja, classifica-a como afortunada.
Fernando Pessoa, o poeta sensitivo e misterioso, usa as “Ilhas Afortunadas” como título de um de seus poemas que roça o Invisível com a sutileza delicada e necessária:
   “Que voz vem no som das ondas
    Que não é a voz do mar?
    É a voz de alguém que nos fala,
    Mas que, se escutarmos, cala,
    Por ter havido escutar.

    E só se, meio dormindo,
    Sem saber de ouvir ouvimos
    Que ela nos diz a esperança
    A que, como uma criança
    Dormente, a dormir sorrimos.

    São ilhas afortunadas
    São terras sem ter lugar,
    Onde o Rei mora esperando.
    Mas, se vamos despertando
    Cala a voz, e há só o mar”.

domingo, 18 de dezembro de 2011

O Apego, como ele nos fisga, como se soltar...

O apego é o nosso estado "normal", e junto com a raiva, forma a dupla que se associa aos dois canais laterais à coluna, por onde passa o Prana (ou Qi, ou Energia Vital) quando respiramos. Já pensou? A pura energia sutil universal passa pelos canais associados ao apego e à raiva: um presente para a nossa evolução. Basta estar atento e consciente, limpando-os a cada respiração...
Já o terceiro canal, central, por onde o Prana, verde e luminoso, leva embora as energias negativas depositadas nos chakras  pelo nosso karma diário e as manda embora no alto da cabeça, é ligado à Ignorância. Então, Apego, Raiva e Ignorância formam o tripé do sofrimento, como mostra a figura tibetana dos 3 animais, o galo, a serpente e o porco. Os 3 canais são banhados pelo prana desde a nossa primeira até a última respiração.
Pema Chodron fala então do apego (o galo), chamado shenpa no budismo tibetano: como ele nos “fisga” como um anzol, e como se desvencilhar gradualmente dele na prática do nosso dia-a-dia. Vamos lá:
“Você está tentando tratar uma questão com seu colega de trabalho ou com sua companheira. Num momento, o rosto dela está aberto, ela está sorrindo. No momento seguinte, uma nuvem embaça seus olhos e seu queixo enrijece de tensão.
O que você está percebendo?
Alguém o critica. Criticam seu trabalho, sua aparência ou seu filho. Em momentos como esse, o que você sente? Há um gosto familiar na sua boca, há um cheiro familiar. Ao se dar conta disso, você sente que essa experiência vem acontecendo desde sempre.
A palavra tibetana para isso é shenpa. Geralmente é traduzida como "apego", mas uma tradução mais apropriada poderia ser "a fisgada". Quando a shenpa nos fisga é como se ficássemos "colados".  Poderíamos chamar de shenpa de essa sensação de "colamento". É uma experiência de todo instante. Mesmo um pontinho no seu casaco novo pode conduzir a ela. Num nível mais sutil sentimos um aperto, uma tensão, uma sensação de fechamento. Em seguida, vem uma vontade enorme de nos retirar dali, não queremos mais estar onde estamos. Essa é a qualidade da fisgada. Aquela sensação de aperto tem o poder de nos fisgar para a auto depreciação, culpa, raiva, ciúmes e outras emoções que levam a palavras e ações que acabam por nos envenenar.
Lembra daquele conto de fadas em que sapos pulavam da boca da Princesa cada vez que ela dizia coisas más? É como a sensação de ser fisgado. Contudo não paramos – não podemos parar – porque ainda estamos habituados a associar o que quer que estejamos fazendo ao alívio do nosso próprio desconforto. Essa é a síndrome da shenpa. A palavra "apego" não traduz completamente o que está acontecendo. É uma qualidade de experiência que não é fácil de descrever mas que todo mundo conhece bem. Geralmente a shenpa  é involuntária e vai direto à raiz do porque sofremos.
Alguém nos olha de certa maneira, ou ouvimos uma certa canção, sentimos um certo cheiro, entramos em certo aposento e pronto!. A sensação não tem nada a ver com o presente, e apesar disso ela está lá. Quando estivemos praticando para reconhecer a shenpa, descobrimos que alguns de nós podiam senti-la até mesmo quando uma determinada pessoa simplesmente sentava próximo de nós na mesa.
A shenpa floresce na insegurança motivada por  vivermos num mundo que está sempre mudando, impermanente. Experimentamos essa insegurança como um fundo de leve desconforto  e inquietação. Todos nós queremos alguma espécie de alívio para esse desconforto, então nos voltamos para o que nos dá prazer – comida, diversão, álcool, drogas, sexo, trabalho ou as compras. Com moderação o que nos dá prazer pode ser muito delicioso. Podemos apreciar seu sabor e sua presença em nossa vida. Mas quando lhe atribuímos poder com a idéia de que nos trará conforto, removerá nossa inquietude, aí somos fisgados.
Desse modo, também poderíamos chamar de shenpa  o "impulso" – o impulso de fumar um cigarro, de comer demais, de tomar outro drinque, de saciar nossa dependência qualquer que seja ela. Às vezes a shenpa é tão forte que sentimos vontade de morrer ao obter esse alivio de curto prazo dos sintomas. O momento atrás do impulso é tão forte que nós nunca nos livramos do padrão habitual de buscar o conforto no veneno.  Este não necessariamente tem que envolver uma substância; pode ser dizer coisas mesquinhas ou se aproximar de tudo com uma mente crítica. Essa é a maior fisgada. Alguma coisa aciona o gatilho de um velho padrão que preferiríamos não sentir, nos retesamos e engatamos em críticas e queixumes. Isso nos proporciona uma satisfação ofegante e uma sensação de controle que oferece alivio de curto prazo ao desconforto.
Aqueles de nós com dependências fortes sabem que trabalhar com padrões habituais começa com a disposição de reconhecer completamente nosso impulso e em seguida disposição de não atuar a partir dele. Esse não atuar é chamado abster-se. Tradicionalmente é  conhecido como renúncia. Não renunciamos ou nos abstemos da comida, do sexo, do trabalho ou de relacionamentos em si. Renunciamos e nos abstemos da shenpa. Quando falamos sobre abster-se da shenpa, não estamos falando de tentar jogá-la fora; estamos falando de tentar ver a shenpa claramente e experimentá-la. Se pudermos ver a shenpa exatamente quando começamos a nos fechar, quando sentirmos o aperto, existe a possibilidade de agarrar o impulso de fazer a coisa habitual e não fazê-la.
Sem a prática da meditação isso é quase impossível de fazer. Geralmente, não capturamos o aperto até que tenhamos saciado o impulso de coçar nosso comichão de alguma maneira habitual. E, a menos que equiparemos o abster-se com bondade amorosa e amizade para conosco, abster-se dá a impressão de vestir uma camisa de força. Lutamos contra ela. A palavra Tibetana para renúncia é shenlock, que significa "virar a shenpa de cabeça para baixo, sacudindo-a".
Quando sentirmos o aperto, de alguma forma temos que saber como abrir o espaço sem sermos fisgados para nosso padrão habitual.
Ao praticar com a shenpa, primeiro tentamos admiti-la. O melhor lugar para fazê-lo é na almofada de meditação. A prática da meditação sentada nos ensina como nos abrir e relaxar para o que quer que surja, sem escolher ou selecionar. Ela nos ensina a experimentar o desconforto, o aperto, a coceira da shenpa. Treinamos em sentar quietos com nosso desejo de coçar. É assim que aprendemos a interromper a reação em cadeia dos padrões habituais que de outra maneira governarão nossas vidas. É assim que enfraquecemos os padrões que nos mantêm fisgados no desconforto que nós confundimos com conforto. Nós rotulamos isso através do "pensar" e voltamos para o momento presente. Até mesmo na meditação experimentamos a shenpa.
Vamos supor, por exemplo que na meditação você se sentiu sereno e aberto. 
Os pensamentos vierem e se foram mas não o fisgaram. Eram como nuvens no céu que se dissolviam quando você os reconhecia. Você foi capaz de voltar ao momento sem uma sensação de luta. Em seguida você é fisgado naquela experiência tão agradável: "Eu fiz certo, consegui acertar. É como tinha que ser, é o modelo." Ser apanhado dessa maneira constrói arrogância e no reverso dela constrói pobreza, porque sua próxima sessão não será nada daquilo. Na verdade sua sessão "má" é muito pior agora porque você foi fisgado na "boa". Você sentou lá e foi discursivo: ficou obcecado por alguma coisa em casa, no trabalho. Você se preocupou e se atormentou; foi apanhado com medo ou raiva. No fim da sessão você se sentiu desanimado – foi "mau", e só há você para culpar.
Há alguma coisa inerentemente errada ou certa na experiência da meditação?
Somente a shenpa. A shenpa que sentimos para a "boa" meditação nos fisga no que ela "deve" ser e com isso somos conduzidos pela shenpa a como ela não "deve" ser. No entanto a meditação é apenas o que ela é. Somos apanhados não nela, mas em "nossa idéia dela": isso é a shenpa. Essa colada é a raiz da shenpa. Nós a chamamos “pegada do ego” ou auto-absorção. Quando somos fisgados na idéia da experiência má, a auto-absorção fica mais forte. É por isso que, como praticantes, somos ensinados a não nos julgar, para não sermos apanhados no bom ou mau.
O que realmente precisamos fazer é tratar as coisas como elas são. Aprender a admitir a shenpa nos ensina o significado de não estar apegado a esse mundo. Não estar apegado não tem nada a ver com esse mundo. Tem a ver com a shenpa – sermos fisgados pelo que associamos com conforto. Tudo o que estamos tentando fazer é não sentir nosso desconforto. Mas quando fazemos isso nunca chegamos à raiz da prática. A raiz é experimentar a coceira, assim como o impulso de coçar e então não atuar sobre ele.
Se estamos dispostos a praticar dessa  maneira todo o tempo, o prajna começa a aparecer. Prajna é a visão clara. É a nossa inteligência inata, nossa sabedoria. Com o prajna, começamos a ver claramente toda a reação em cadeia. À medida que praticarmos, a sabedoria se torna uma força mais poderosa que a shenpa.
Por si só, ela tem o poder de interromper a reação em cadeia.
O prajna não está envolvido com o ego. Sua sabedoria se baseia na bondade fundamental, na abertura, na equanimidade – que corta a auto-absorção. Com o prajna podemos ver o que o espaço vai nos mostrar. Ação habitual, que está baseada no ego é exatamente o oposto – a compulsão de preencher o espaço ao nosso estilo particular. Alguns de nós fechamos o espaço martelando nossos mesmos pontos; outros tentando suavizar as águas.
Fomos ensinados que tudo que surge é fresco, a essência da realização. Esta é a visão básica. Mas como ver  tudo que surge como a essência da realização quando a realidade é que temos um trabalho a fazer? A chave é olhar para dentro da shenpa. O trabalho que temos que fazer é descobrir se estamos tensos, fisgados ou "excitados". Essa é a essência da realização. Quanto mais cedo  captarmos isso, mais fácil será trabalhar com a shenpa, mas até mesmo captar isso quando já estivermos excitados é bom. Às vezes temos que percorrer todo ciclo até que vejamos o que estamos fazendo. O impulso é tão forte, a fisgada tão profunda, o padrão habitual tão colado que tem vezes que não podemos fazer nada sobre isso.
Entretanto, há alguma coisa que podemos fazer na realidade. Podemos sentar na almofada de meditação e repassar a história. Talvez comecemos lembrando a sensação de excitamento e entremos em contato com ela. Olhamos claramente a shenpa em retrospecto; também ajuda muito ver a shenpa surgindo em habitozinhos, quando a fisgada ainda não é tão profunda.
Os budistas estão falando da shenpa quando dizem, "Não se deixe apanhar no contentamento: observe a qualidade que está por trás  - a colada, o desejo, o apego". A meditação sentada nos ensina a ver aquela tangente antes de cair nela. Ela basicamente se resume à instrução "rotule a coisa pensando". Treinar isso na almofada onde é relativamente fácil e agradável fazê-lo, é a maneira de nos preparar para quando estivermos excitados.
Em seguida podemos treinar em ver a shenpa onde quer que estejamos. Diga alguma coisa a outra pessoa e talvez você sentirá aquela tensão. Em vez de ser apanhado numa história sobre como você está certo ou como você está errado, tome isso como uma oportunidade de estar presente com a qualidade da fisgada.
Use isso como uma oportunidade de estar com o aperto sem atuar sobre ele. Deixe o treinamento ser a sua base.
Você também pode praticar reconhecendo a shenpa na natureza. Praticar se sentando quieto e captando o momento em que se fecha. Ou praticar numa multidão, olhando uma pessoa de cada vez. Quando você está em silêncio, o que o fisga é o diálogo mental. Você fala consigo mesmo sobre maldade ou bondade: eu-mau ou eles-maus, isso-certo ou aquilo-errado. Simplesmente veja isso como uma prática. Você ficará intrigado como  involuntariamente se fechará e será fisgado de uma maneira ou de outra. Apenas continue rotulando aqueles pensamentos e volte para a imediatez da sensação. É a maneira de  não seguir a reação em cadeia.
Uma vez que estejamos conscientes da shenpa, começamos a notá-la em outras pessoas,  nós as vemos se fechando. Vemos que elas foram fisgadas e que nada irá penetrá-las agora. Naquele momento temos o prajna. A inteligência básica surge quando não somos apanhados escapando do nosso próprio desconforto. Com o prajna podemos ver o que está acontecendo com os outros; podemos ver quando eles estão sendo fisgados. Em seguida podemos dar algum espaço à situação. Uma maneira de fazê-lo é abrindo o espaço no local através da meditação. Fique quieto e coloque sua mente na respiração. Segure sua mente no lugar com grande abertura e curiosidade para com essa pessoa. Fazer uma pergunta é outra maneira de criar espaço em volta daquela sensação de colamento. Assim como adiar a discussão para outra hora.
No mosteiro, temos muita sorte de todo mundo estar entusiasmado em trabalhar com a shenpa. Muitas palavras que tenho tentado usar se tornaram munição para as pessoas usarem contra elas próprias. Mas sentimos uma espécie de alegria trabalhando com a shenpa, talvez porque a palavra não nos seja familiar. Podemos reconhecer o que está acontecendo com visão clara, sem nos apontarmos. Como ninguém gosta de ter sua shenpa apontada, as pessoas no mosteiro combinaram, "Quando você me vir sendo fisgado, só puxe sua orelha e se eu o vir sendo fisgado, farei o mesmo. Ou se você o vir em você mesmo e eu não tiver captado, pelo menos dê um sinalzinho de que talvez esta não seja a hora de continuarmos a discussão". É dessa maneira que estamos nos ajudando uns aos outros a cultivar prajna, visão clara.
Poderíamos pensar em todo esse processo em termos dos 4 “R”:
 
•    reconhecer a shenpa,
•    refrear (abster-se) o coçar,
•    relaxar no impulso que motiva o coçar, e então
•    resolver continuar  interrompendo nossos padrões habituais como esse pelo resto de nossas vidas.
O que você faz quando não faz a coisa habitual? Você se deixa ficar com seu impulso. É como você se põe mais em contato com a avidez e com a vontade de fugir. Você relaxa nele. Em seguida, resolve continuar praticando dessa maneira.
Trabalhar com a shenpa nos suaviza. Uma vez que vemos como somos fisgados e como somos arrastados pelo momento, não tem como ser arrogantes. O segredo é continuar vendo. Não deixar que a suavidade e a humildade se transformem em auto-depreciação. É apenas uma outra fisgada. Como viemos fortalecendo toda a situação habitual por um longo, longo tempo não podemos espera desfazê-la do dia para a noite. Não é um assunto para um tiro só. É preciso bondade amorosa para reconhecer; é preciso prática para abster-se; é preciso disposição para relaxar; é preciso determinação para continuar treinando dessa maneira. Ajuda lembrar que podemos experimentar dois bilhões de espécies de coceiras ou sete quatrilhões de tipos de comichão, mas só existe realmente uma única raiz da shenpa – a aderência do ego. Nós a experimentamos como aperto e auto-absorção.
Ela tem graus de intensidade. As ramificações shenpas são todos os nossos diferentes estilos de coçar o comichão.
Recentemente vi um cartoon com três peixes nadando em volta de um anzol. Um peixe está dizendo para o outro, "o segredo é não grudar". É um cartoon shenpa: o segredo é – não morda o anzol. Se nós pudermos nos apanhar no lugar onde o impulso de morder é forte podemos, pelo menos, ter uma perspectiva maior do que está acontecendo. Praticando dessa maneira, ganhamos confiança em nossa própria sabedoria. Isso começa a nos conduzir a um aspecto fundamental do nosso ser – amplidão, calor e espontaneidade.”

Pema Chödron,  nascida Deirdre Blomfield-Brown (Nova York, 1936) é uma monja budista tibetana na tradição Vajrayana, e é instrutora residente no templo Gampo Abbey, em Cape Breton Nova Escócia, Canadá, fundado pelo grande Chögyam Trungpa em 1984. Veja www.pemachodronfoundation.org

domingo, 11 de dezembro de 2011

Damanhur, o mistério...

O Invisível engendra mistérios insuspeitáveis para nós mortais que vivemos essa existência corriqueira e simplória feita de trabalho, preocupações, busca interminável de prazer e fuga da dor. Damanhur é um desses mistérios.
Localizado discretamente (quase em segredo) na região do Pemonte, nos Alpes italianos, o templo é um conjunto subterrâneo de edificações artísticas  de tirar o fôlego construída por uma comunidade de anônimos e dirigida por um personagem sob o nome de Falco (falcão em italiano).
A existência deste templo tornou-se conhecida em 1992 com uma ocorrência policial de rotina. Já no ano anterior a polícia tinha se deslocado ao local, situado no sopé do vale Valchiusella, a 50 km a Norte de Turim, sob a suspeita de crime de evasão fiscal de uma comunidade que aí vivia. Porém, desta vez forçaram a entrada de uma porta "secreta". Havia razões de sobra para tanto segredo. Uma vez aberta, aos polícias incrédulos revelou-se uma sala subterrânea de 8 metros de diâmetro suportada por colunas esculpidas e revestidas com folhas de ouro.

As paredes estavam cobertas por pinturas de cores exuberantes; vitrais e uma imensa clarabóia central derramavam luz multicolorida por todo o lado. Encontravam-se na Sala da Terra, apenas a primeira de um complexo arquitetônico de nove espaços que compõem Damanhur. Comenta-se que teria sido feito por inspiração da Idade do Ouro da Atlântida, da qual a civilização egípcia seria uma colônia, assim como os maias e outros.

O templo é imenso e magnífico. São 300000 m3 de salas e galerias de uma arquitetura grandiosa, interligadas em cinco níveis situados 30 metros abaixo da superfície e profusamente decoradas com esculturas, pinturas, mosaicos e vitrais narrando a história da humanidade.
Não admira, por isso, o espanto das autoridades ao entrar pela primeira vez no local. Como foi possível fazer tal obra surgir do nada?
  Na verdade, desde 1978 um grupo de voluntários - originalmente 24 - trabalhou às escondidas para moldar o subsolo dos Alpes italianos de acordo os desenhos visionários de um homem, Oberto Airaudi, ou Falco, como prefere ser chamado.
No ano 2000 o número de pessoas tinha chegado a 800 e continua a crescer, formando já uma comunidade auto suficiente com uma estrutura social e política, uma constituição, atividades econômicas, escolas, uma moeda própria (o Crédito) e, inclusive, um jornal diário.
 A comunidade é dificilmente definível. É algo como uma escola mística que recusa os limites e constrangimentos que nós, humanos, por tradição e convenção impomos a nós mesmos.
 Cada membro deve então escolher um caminho onde desenvolverá o seu crescimento espiritual de acordo com as suas aspirações, preferências ou capacidades
A base filosófica eclética da comunidade, típica da Era de Aquário,  mescla crenças neo-pagãs e da Nova Era e retira o seu nome e inspiração da antiga cidade egípcia de Damanhur, onde se situava um famoso templo de culto ao deus Hórus, significando literalmente "Cidade da Luz".

Quando da sua descoberta, e passado o choque da surpresa, a reação das autoridades italianas foi a de mandar destruir o local, uma vez que, carecendo de qualquer projeto aprovado ou licença, se tratava de uma construção clandestina.
A ordem foi posteriormente revogada quando a Administração italiana percebeu que poderia tirar proveito do templo para dinamizar turisticamente a região. Entretanto a construção e ampliação do templo continua e continuará. Permanece um mistério o que levou e leva essas pessoas a trabalhar nessa grande obra de arte debaixo de terra durante tantos anos sem dar mostras de abrandar o ritmo, como formigas obreiras, sob a orientação do indivíduo autodenominado Falco. Porque?
Permanece também outro mistério: Onde foram arranjar dinheiro e meios para pagar tudo aquilo?
Uma amiga que visitou a comunidade, contou experiências interiores tocantes ligadas a energias sutis do ser humano, conduzidas pelos integrantes da comunidade. Enfim, um mistério.
Um mistério como tantos outros que estão sendo veiculados pelos meios de comunicação. É como se parte da humanidade estivesse já cansada de jogar para baixo do tapete as coisas que não se adequam ao gosto da maioria padronizada e preconceituosa que não acredita no Invisível.
Charles Hoy Fort, o baixinho bigodudo, revolucionário e fora de esquadro ia gostar muito de ver isso...

domingo, 4 de dezembro de 2011

O Ser Permanece além da Mente - Nisargadatta Maharaj

Sri Nisargadatta Maharaj, nasceu na Índia em 1897 e faleceu em 1981. De família humilde, transformou-se em líder espiritual, filósofo, e um dos expoentes da escola Advaita Vedanta (Não-dualismo) do século 20, desde o grande Ramana Maharishi.
Em 1973 publicou o seu famoso livro I Am That (Eu Sou Isso), que trouxe reconhecimento mundial e uma legião de seguidores. Simples, minimalista e claro, responde a um discípulo as perguntas centrais da nossa existência nesta entrevista:

Pergunta: Quando era criança, com muita frequência eu experimentava estados de felicidade completa, próximos ao êxtase. Mais tarde, esses estados acabaram mas, desde que vim para a Índia, eles reapareceram, particularmente desde que encontrei você. Ainda assim, apesar de serem maravilhosos, esses estados não duram. Chegam e se vão, e não se sabe quando voltarão.
Maharaj: Como pode haver algo estável em uma mente que em si mesma não é estável?


P: Como podemos estabilizar a mente?
M: Como poderia uma mente inconstante fazer-se estável? Certamente não é possível. A natureza da mente é vagar. Tudo o que você pode fazer é colocar o foco da consciência além da mente.

P: Como isso é feito?
M: Evite todos os pensamentos exceto um: o pensamento “Eu Sou”. A mente irá
se rebelar a princípio, mas, com paciência e perseverança, ela cederá e permanecerá quieta. Uma vez que você esteja quieto, as coisas começarão a acontecer espontaneamente e de forma muito natural, sem nenhuma interferência de sua parte.

P: Posso evitar essa longa batalha com minha mente?
M: Sim, você pode. Simplesmente viva sua vida como vier, mas sempre alerta, vigilante, permitindo que tudo ocorra da maneira que ocorrer, fazendo as coisas naturais de um modo também natural, sofrendo, gozando, como a vida se apresentar. Essa também é uma maneira de viver.

P: Bom, então posso casar-me, ter filhos, levar um negócio, ser feliz ...
M: Claro que sim. Você pode ser feliz ou não; aceite-a calmamente.

P: Mas eu quero felicidade.
M: Não se pode encontrar a verdadeira felicidade nas coisas que mudam e morrem. O prazer e a dor se alternam inexoravelmente. A felicidade procede do Ser e só pode ser encontrada no Ser. Encontre seu Ser Real (swarupa) e tudo chegará com ele.

P: Se meu Ser real é cheio de paz e de amor por que sou tão inquieto?
M: O seu Ser Real não é inquieto, mas o reflexo dele na mente parece assim, já que a própria mente é inquieta. É como o reflexo da lua na água agitada pelo vento. O vento do desejo move a mente, e o “eu”, que não é senão um reflexo do Ser na mente, parece mutável. Mas essas idéias de movimento, de inquietude, de prazer e dor, estão todas na mente. O Ser está além da mente, consciente, mas desapegado.

P: Como alcançá-lo?
M: Você é o Ser, aqui e agora. Deixe a mente em paz, seja consciente e despreocupado e você compreenderá que permanecer alerta, mas desapegado, observando como os fatos vão e vêm, é um aspecto de sua verdadeira natureza.

P: Quais são os outros aspectos?
M: Os aspectos são infinitos em número. Compreenda um e você compreenderá todos.

P: Diga-me algo que possa ajudar-me.
M: Você sabe melhor o que precisa!

P: Estou inquieto. Como posso obter paz?
M: Para que você necessita de paz?

P: Para ser feliz.
M: Você não é feliz agora?

P: Não, não sou.
M: O que o torna infeliz?

P: Tenho o que não quero e quero o que não tenho.
M: Por que não inverter? Queira o que você tem e não se preocupe com o que não tem.

P: Eu quero o que é agradável e não quero o que é doloroso.
M: Como é que você sabe o que é agradável e o que não é?

P: Através de experiências passadas, certamente.
M: Guiado pela memória, você tem perseguido o agradável e tentado escapar do desagradável. Você tem tido êxito?

P: Não, não tenho tido. O agradável não dura. A dor sempre volta.
M: Que dor?

P: O desejo de prazer, o medo da dor, ambos são estados de sofrimento. Existe um estado de puro prazer?
M: Cada prazer, físico ou mental, necessita um instrumento. Os instrumentos físicos e mentais são materiais, portanto, se desgastam e se esgotam. O prazer que proporcionam é, necessariamente, limitado em intensidade e duração. A dor é o pano de fundo de todos os prazeres. Você os deseja porque sofre. Por outro lado, a própria busca do prazer é a causa da dor. É um circulo vicioso.

P: Posso ver o mecanismo de minha confusão, mas não vejo a saída.
M: O próprio exame do mecanismo mostra a saída. Afinal de contas, a confusão está só na mente, a qual nunca se rebelou totalmente contra a confusão nem chegou a combatê-la. Ela só se rebelou contra a dor.

P: Então, tudo o que posso fazer é permanecer confuso?
M: Esteja alerta. Investigue, observe, pergunte, aprenda tudo quanto possa sobre a confusão, como funciona, qual é o seu efeito em você e nos demais. Ao ver claramente a confusão, você se libertará dela.

P: Quando olho para mim mesmo, vejo que meu desejo mais forte é criar um monumento, construir algo que dure mais que eu. Inclusive quando penso em um lar – esposa e filhos – é porque ele é sólido, duradouro, uma prova para mim mesmo.
M: Certo, construa um monumento para si. Como quer fazer isso?

P: Não importa o que eu construa, desde que seja permanente.
M: Certamente, você pode ver por si mesmo que nada dura. Tudo fica gasto, quebra e se dissolve. O próprio alicerce sobre o qual você constrói irá ceder um dia. O que você pode construir que sobreviva a tudo?

P: Intelectualmente, verbalmente, estou ciente de que tudo é transitório. Ainda assim, meu coração quer permanência. Quero criar algo duradouro.
M: Então você deve construir sobre algo duradouro. O que você tem que seja duradouro? Nem seu corpo nem sua mente durarão. Você tem que buscar em outra parte.

P: Desejo permanência, mas não a encontro em nenhum lugar.
M: Não é você mesmo permanente?

P: Eu nasci e morrerei.
M: Você pode dizer verdadeiramente que você não existia antes de nascer, e poderá dizer depois da morte: 'agora já não existo?' Você não pode dizer, pela sua própria experiência, que você não existe. Só pode dizer: “eu sou” (eu existo). Os outros também não podem dizer-lhe que “você não é”.

P: Não há “eu sou” no sono.
M: Antes de fazer afirmações tão incisivas, examine cuidadosamente seu estado desperto. Cedo você descobrirá que ele está cheio de intervalos onde a mente fica em branco. Perceba o quão pouco você se lembra, mesmo quando está totalmente desperto. Você não pode dizer que não estava consciente durante o sono. Você apenas não se lembra. Uma lacuna na memória não é necessariamente uma lacuna na consciência.

P: Posso chegar a recordar meu estado no sono profundo?
M: Certamente! Ao eliminar os intervalos de inadvertência durante as horas de vigília, gradualmente você eliminará o grande intervalo de inadvertência mental que você chama sono. Você estará ciente de estar dormindo.

P: Mas o problema da permanência, da continuidade do ser, não é resolvido.
M: A permanência é uma mera idéia, nascida da ação do tempo. Por sua vez, o tempo depende da memória. Você chama de permanência uma memória contínua através do tempo ilimitado. Você quer eternizar a mente, o que não é possível.

P: Então, que é o eterno?
M: Aquilo que não muda com o tempo. Você não pode eternizar algo transitório, apenas o imutável é eterno.

P: Estou familiarizado com o sentido geral do que você diz. Não anseio mais conhecimento, tudo o que quero é paz.
M: Você pode ter toda a paz que quiser, basta pedir.

P: Estou pedindo.
M: Você deve pedir com um coração não dividido e deve viver uma vida íntegra.

P: Como?
M: Desapegue-se de tudo aquilo que deixa sua mente inquieta. Renuncie tudo que perturbe a paz dela. Se você quer paz, mereça-a.

P: Certamente, todo mundo merece paz.
M: Só a merecem aqueles que não a perturbam.

P: De que modo eu perturbo a paz?
M: Sendo escravo de seus desejos e temores.

 
P: Inclusive quando são justificados?
M: As reações emocionais nascidas da ignorância ou da inadvertência nunca são justificadas. Busque uma mente clara e um coração limpo. Tudo o que você necessita é permanecer tranqüilamente alerta, investigando a natureza real de si mesmo. Esse é o único caminho para a paz.